quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Enquanto isso, o tempo passa lento no hospital. Mas nada monótono!

E aí galera, como vão vocês? Espero que bem pois eu estou ótimo. Tive uns probleminhas com pontos semana passada mas está correndo tudo bem. Alguns abriram pois ainda não estavam na hora de tirar mas algumas medidas já estão fazendo eles fecharem de novo sem a necessidade de recosturar. Eu praticamente estou gravido, usando uma cinta pra ajudar na cicatrização da "cezariana". Mulheres, tamo junto. Amarrar o tennis é uma aventura.

Como havia dito num post anterior vários momentos de minha estadia considerei pitorescos e de certa forma me ajudaram a ver as coisas de uma forma diferente naqueles dias. Não que o transplante tenha sido uma experiência espiritual tanscedental e me mudou completamente. Mas como dizem alguns, se a dor é inevitável, o sofrimento é opcional. E achei que nem doeu tanto assim.


O primeiro raio de luz ... natural.

Pense em você 4 dias sem ver a luz do dia. O sol, a mudança da luminosidade na janela pelo passar das horas. Na UTI não tem nada disso. É luz de lampadas frias que com você deitado quando são acesas incidem diretamente em seu rosto e parece que iluminam até seu útero. OK, estômago, que esse todo mundo tem. E acendem a luz a qualquer hora sempre que precisam dar remédio, medir alguma coisa, trocar alguma coisa ou acudir alguma coisa... digo, alguém. Tudo bem, recém operado a gente não consegue dormir mesmo. Vive de cochilinhos ainda sob efeito da anestesia e sedativos pra eventuais dores.

Fui pro quarto e a médica e a fisioterapeuta disseram que eu precisava andar. Nem precisaram repetir. Depois de 4 dias deitado eu queria fazer uma maratona. Tudo bem que correr com sonda e dreno seria uma corrida de obstáculos, então decidi apenas caminhar e foi então que eu vi ...


... a cena do céu azul, com a planície e as montanhas ao fundo quase me fizeram chorar. Naqueles dias eu chorava até em propaganda de margarina. Mas enfim, foi emocionante ver a cena. O hospital fica na região metropolitana de Curitiba e da vista para a famosa Serra do Mar, região da Mata Atlântica do Paraná. Dá um desconto gente, parece realmente que não tem nada demais, porém pensem. Fazia 4 dias que só via luz de lâmpadas frias. Realmente o efeito da luz do sol sobre o astral das pessoas é crível de estudo. Vocês conhecem um lugar cinza em que as pessoas sejam muito felizes? Eu conheço o contrário.


Eu fiquei na ala das estrelas. Olha que chic.

Gente, eu sou demais. Na verdade não sei por quê colocaram o nome da ala que eu estive de Ala Diva. Sim, DIVA. Vai ver é homenagem a alguma doutora ou colaboradora, ou fundadora do hospital que se chamava Diva. Mas a associação imediata quando falava a ala que estava era outra. Bem outra. 

Aí comecei a pensar sobre o assunto. No hospital você pode pensar bastante sobre vários assuntos. Todos os cuidados ali são pra você. Coisa de Diva. Você veste coisas estranhas, roupas extravagantes. Coisa de Diva. Seus adereços são diferentes e lançam tendências e conceitos (tudo bem que uma fantasia de sonda e dreno com soro pendurado deve ser bem estranho (né Gaga?). Mas é coisa de Diva. As vezes eu ouvia uns gritos na noite vindo de outros quartos. Coisa de Diva. E em seguida gente correndo pra acudir. Coisa de Diva. Eu estava no lugar certo. As vezes apertava só um botão e aparecia alguém pra me ajudar. Eu sou uma Diva. E acreditem, até pra me ajudar a fazer pipi tinha alguém que me ajudava. Eu era uma Diva total. Estava no lugar certo. Só faltava eu abrir a porta do quarto e tocar VOGUE ao passear nos corredores. Strike a Pose total. 
Pra brincar um pouco com essa história, tem um vídeo bem legal da série GLEE que brinca com esse desejo contido que todo mundo tem de ser DIVA por um dia pelo menos. Eu já tive meu dia de DIVA e você?

Diva por Divas, eu prefiro as mais experientes. 


A lá Jack Nicholson em Something Gotta Give. #soquenao

Ok. Momento constrangedor. Sabe que é raro você ficar sozinho num quarto quando seu tratamento é todo feito pelo SUS. Nada a reclamar pois foi tudo do bom do começo ao fim. BUT ... eu dividi o quarto. Isso não é problema. Transplantados ficam em até dois no quarto com visitas super controladas. Se bem que as vezes tinham 6 pessoas lá dentro e eu não imaginava como era possível. Eu não tirava a máscara. Meu colega tinha feito transplante de coração e devido ao tipo de procedimento ele tinha secreções. E usava só o avental. O problema é que ele não amarrava atrás e gostava de se levantar. Aquela cena começou a me incomodar. Gente, amarra né. Quer passear, amara né. Eu entendo toda a situação. Mas amarra né.  Era o tiozinho sensualizando no hospital. Capaz. Tanta gente pra fazer isso de unha encravada. Cheguei a postar no Facebook que ia acabar passando a mão na bunda do tiozinho pra ver se ele aprendia a amarrar o avental. Piadas e comédias a parte a coisa rendeu até que ele conseguiu vestir a roupa. Ufa. Tá certo que posso ter sido pouco compreensível.  Mas lembre-se, quem estava lá todo dia era eu: de pijaminha.



Bem-vindo ... DORIVALDO?

Eu ainda me surpreendo com a criatividade dos pais. Pensa aquele menininho lindo, todo fofinho, cheio de vida, quietinho no colo da mãe com o papai do lado quando alguém diz:
- É o Dorivaldinho mais lindo que eu já vi.


Sério que podem existir outros? Meu Deus. O que aconteceu com os Robertos, João Marcelo, Pedro Paulo, Mario (até o Mario), Renato ... Maurício, José. Será que os pais se chamam Doriana e Nivaldo? Já não ajudaria muito mesmo. Ou é homenagem ao avô? Desculpem o sarcasmo com o nome da criança, mas vamos e convenhamos né gente. Uma amiga psicologa pediu o fone da família pra atendimento futuro. Bowlling pronto. Um advogado também. Enfim, que seja muito feliz e tenha saúde.  


As vezes no silêncio da noite ... da manhã, da tarde, da madrugada

Hospital. Lugar de muita energia curativa. Centro de excelências. De dedicação e amor pelo que se faz. Local de tranquilidade, paz e raves todas as noites. Oi...? 
Quando eu era criança e passava á frente de hospitais eu sempre via aquele placa azul com um círculo vermelho cortado ao meio com um buzina dentro. Pra mim desde então ficara muito claro que quando se passasse ou estive naquele local devia-se fazer silêncio de forma imperativa. Mas não foi bem assim que ocorreu nos dias que fiquei no hospital. Depois que fui pro quarto percebi que essa não era uma retórica constante. Bem pelo contrário. E a janela do meu quarto dava pra um corredor interno onde se acessava o vestiário do centro cirúrgico. Era uma feira. As vozes ecoavam. O horário de pico era perto das 06 da manhã. Aquela do paciente tentar tirar o soninho gostoso. A situação era absurda e cheguei a reclamar várias vezes com as psicologas que todo dia iam nos ver pra saber coo estávamos. Era a minha única crítica.. Em vão. Chegava a pedir silêncio da janela, mas mudava de turno e começava tudo de novo. Realmente era uma coisa chata. E no corredor as divas se multiplicavam. Também tinha muito "converserê" e o corredor era local de passagem. Carrinhos de tudo cruzavam aquela ala. Minha mãe foi falar com o ouvidor que disse que entendia mas pedia compreensão que o hospital estava em reforma. Bem, haviam pessoas que estavam em reforma naqueles quartos e necessitavam do silêncio como parte do tratamento. Não queria uma bolha sem som, mas um pouco mais de esforço e consciência das pessoas. Acho natural isso. 


Hoje está fazendo um mês e 8 dias do meu transplante duplo. Procurei relatar de forma positiva o que me passou nesses dias de internamento e aqui estão os principais deles. Em nenhum momento pensei em desistir mesmo nem sabendo ao certo pelo que passaria mas acredito que venci. Estou vencendo. Sei de histórias de pessoas com medo e principalmente pra elas que eu acho que escrevi essa minha história dessa forma. Minha médica, extremamente dedicada e competente, havia me dito que seria um período difícil. Eu decidi encarar de frente. Como disse antes, se a dor é inevitável façamos o sofrimento ser opcional. Optei me encher de esperança a cada ligação me chamando para a possibilidade do transplante. Coisa que aconteceu apenas na décima vez. Realmente não acho que sofri. Passei sete meses ligado a uma máquina 3x por semana durante 4 horas e saía dali e ia enfrentar 6 a 8 horas de trabalho no banco. Sei que tem gente nessa rotina ha 5, até 10 anos. Pra elas principalmente passo a minha esperança. E vou continuar escrevendo sobre as cosias boas que farei e faço. Símbolos de que tudo vale a pena. Obrigado por lerem.

Seguem outros links para essa história.


2 comentários:

  1. Como e maravilhoso saber que existem pessoas como voce , e o melhor somos amigos !
    Beijos
    Sussu

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  2. Meu sobrinho poeta, escritor e cômico.....Tomara que todas as pessoas que estão na fila de espera para um transplante,seja qual for,leiam estas suas linhas e se encham de esperança e coragem ,pois é preciso ter coragem para encarar o desconhecido e que este desconhecido não é nenhum bicho de sete cabeças..Milhões e milhões de abraços e beijo da tia IA, da WAL e da NANDA......

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