quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A muito tempo atrás numa galáxia muito, muito distante ...


Era um mês qualquer do ido ano de 1983. Alguns ainda lembravam da derrota pra Itália sofrida pelo Brasil na Copa de 82 e eu passava férias com minha família na cidade de São Paulo. A beira de completar, ou recém completado meu décimo aniversário, lembro que saí com meu pai para passear e acabamos indo ao cinema. Provavelmente um desses cinemas de rua que hoje nem existem mais. Mas lembro que era perto da República. Lembro que sempre quando ia com meu pai ao cinema era para ver algum filme dos Trapalhões (Os Saltimbancos é meu favorito, com trilha de Chico Buarque e Lucinha Lins no elenco)  Mas naquele dia não. Sabendo de meu gosto por ficção, naquele dia ele me levou pra assistir um filminho bem "mais ou menos"(é deboche rs): Star Wars O Retorno de Jedi.

Cerca de duas horas sem piscar. Catapultado para um mundo (um universo) de criaturas fantásticas e naves de batalha extraordinárias num luta intergaláctica entre o bem e o mal. E aquele sapão bandido chefe daquela gangue (Jabha,o Huth); o Han Solo congelado em carbonite; a música quando aparecia o cara de preto falando do respiradouro, Mas o cara com o sabre de luz dando aqueles saltos ... tinha acabado de ganhar um novo herói. Tinha acabado de ser contaminado por George Lukas.

Com o tempo descobri que haviam outros 2 filmes. O Império contra-Ataca acho que vi na TV Manchete algum tempo depois. Na pré-era do video-cassete os filmes demoravam muito pra passar no Super-Cine na Globo. Tele Quente só viria a ser lançado em 1988. É pessoal,não dava pra fazer download que nem hoje em dia. 

A métrica de Star Wars segue a velha fórmula do capa e espada com uma pitada meio que Edipiana: Luke,i m your father.  Uma fórmula que deu tão certo que passados mais de 30 anos que aquele menino entrou no cinema, e seis filmes depois, vem aí o sétimo filme da franquia prestes a bater muitos records. O Despertar da Força que estréia amanhã, 17/12/15 com estréia mundial só de pré-venda nos EUA faturou U$50 milhôes. No Brasil estimasse que cerca de 4 milhões de espectadores vejam o filme até final do mês.

A história que fascina multidões a mais de 30 anos criou uma cultura pop toda sua. Produtos são licenciados aos milhares e os fãs são conquistados geração a geração. Somos todos aventureiros vindos de planetas como Coruscant, Tatooyne, Alderan (que virou cinturão de asteróides), Kashyyk, Hoth... Somos Jedis mestres no manejo de sabres de luz que ano após ano engrossam uma legião de fãs de todas as idades em encontros específicos de aficcionados. E não tem jeito; se você mostrar um filme a um jovem que ainda não conhece a saga há uma enorme chance dele querer ver todos os filmes pelo menos. Batata. E Stas Wars é tão inusitado que o bandido é o personagem mais adorado. O verdadeiro anti-herói Darth Vader. Consagrado e cultuado. E imortalizado.

"Pra ninguém fácil está"
Na tentativa de criar um universo o mais verossímel possível a saga cinematográfica se espalha por outras mídias e ferramentas. A história é completada por séries, quadrinhos, livros e até games. 
Aquele garoto de mais de 30 anos atrás está preparado para fazer mais uma viagem na Falcon Mileniun. E quantas outras forem possíveis. Deixemos nossa realidade e adentremos em outra. "Atrasado chegar, você não pode". Liberte-se de si mesmo expandindo mais seu mundo. Não tema. E que a Força esteja com você.





terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Pra que que eu fui inventar de fazer essa coisa de transplante?

Geralmente é no silêncio da noite que a consciência consegue ser melhor ouvida. Quando surge numa madrugada especial mesmo que ela não grite a gente fica quieto e pede pra escutar. Neste início de madrugada do dia em que os anos se apresentam a mim cobrando mais um dígito penso nas folhas tão viradas do calendário. Folhas até que se desprenderam. Algumas perdi.

Meus anos recentes foram de profundas transformações e mudanças que pouco podem ser mensuradas. E acho que as relato aqui como forma de acreditar que tudo ocorreu por algum motivo e talvez o que vivi inspire alguém. Ou mesmo para não me permitir esquecer fatos transformadores.

Quando a realidade de um transplante duplo se materializou em minha vida como única alternativa para manter uma qualidade de vida que me permitisse viver de forma mais "normal" logo procurei encarar de frente e não me abater mesmo com a doença progredindo e a perspectiva do transplante demorar. Lembro de precisar muita energia para efetuar pequenos esforços e necessitar períodos de repouso. A insuficiência renal também diminui a fabricação de sangue pelo organismo afetando a distribuição de oxigênio para os músculos. Aliado a diabetes, não carregar as sacolas de mercado a pedido de minha mãe por vezes podiam parecer atos de malcriação. 

Mas seguia firme e trabalhando. Inclusive quando a realidade de fazer hemodiálise se abateu. E foi um momento pesado em que me abati. Enquanto aguardava no hospital minha vez de colocar um cateter no pescoço (a fístula no braço ainda não estava boa para a punção da hemodiálise) a desesperança me tomou. Com a dor de uma derrota na alma, num silencioso pranto de lágrimas fartas, me desentendi de vez com Deus. Passaria a viver ligado a uma máquina sabe-se lá até quando. "Por que pediste de mim mais uma dura prova, Deus?" Minha liberdade e independência estavam comprometidas. Uma coisa que gostava de fazer e não poderia era viajar. Por isso transplantei.

Com a devida paciência inerente a um sagitariano otimista, logo o transplante chegou e mesmo com os difíceis dias após a cirurgia já me sentia de esperança renovada. Logo eu ia poder voltar a viajar. Não sou nenhum Marco Polo mas em tratamento de hemodiálise pode esquecer viagens. Até finais de semana com feriado prolongado com churrasco ou cerveja na praia ou mesmo algumas horas de pé numa fila pra um mega show internacional. Mas a partir do transplante muita coisa voltaria a ser possível. E foi. Está sendo.

Nos poucos mais de 2 anos de meu transplante as coisas acabaram não sendo tão fáceis o que me rendeu internações e até uma amputação do dedão do pé em que a recuperação.já se arrasta a meses. Mas consegui voltar a fazer o que queria que era poder viajar. Fui a São Paulo ver meus padrinhos que amo; conheci a arena do Palmeiras no amistoso da seleção (nunca tinha visto jogo do Brasil); fui na Liga Mundial de Volley (meu padrinho adora essa história), revi e conheci amigos; também fui a Porto Alegre, Gramado e ao Rio de Janeiro. Sem contar Santa Catarina (confissão, fui a praia de nudismo exibir a cicatriz no pânceps ... rs). Enfim. Viver o verbo. Não como substantivo. Porque vida até uma samambaia tem. Mas sem dúvida a grande viagem tem sido a interior.

É impossível não passar por essas coisas e não processar mudanças significativas. Hoje me deixo dominar por uma serenidade maior e uma forma de pensamento muito singular sobre as coisas da vida, coisas que me atingem. Escolho melhor minhas batalhas e tento passar um pouco dessa minha visão, com minha experiência para que de repente ajude alguém. Escrevo pra acreditar que nada foi em vão e assim tentar fazer as pazes com Deus. 

Claro que essa reflexão as vezes é frustrante. Não dá pra querer que os outros aprendam com o que você passou. Mas eu acho um desperdício. Empresto minhas dores para outros aprenderem. Se possível. Mas as vezes cada um tem que cortar sua própria carne. Fazer o quê?

Tem gente que escolheu as aparências sem saber que o preço da maquiagem chega.

Há os que perdem amores pois vivem os amores dos poetas e não dos construtores. Amor penso ser construção. Quem constrói admira, cuida e reforma se precisar pra tudo não ruir

Ajudar a quem pede. Não a quem precisa. Quem pede ajuda é porque adquiriu sua dose de humildade e percepção.

Fazer as pazes com a solidão. Ela é ótima pra fazer você conversar consigo mesmo. E não briga pelo controle da tv.

Ouço tanta gente reclamando que odeia mentiras. Mas tem sérios problemas em ouvir verdades.

Entre outras pequenas verdades particulares que para mim tem funcionado. Se o amanhã é incerto o que dizer do depois de amanhã?

Parece que se Deus escreve certo por linhas tortas não signifique apenas que Ele tenha Parkinson. se é pra chegar lá em cima com a paz firmada saibam que ainda há focos de incêndio para apagar. Jamais apagamos todos os incêndios de nossas vidas. Dá pra tentar conviver com uns chamuscados. É muito melhor. Enfim, parece que o transplante foi uma ótima ideia. Uma viagem incrível.


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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Disque conchinha


 Você chega em casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Come algo rápido porque a fome não espera o banho. Lá fora, a noite vai cainho um pouco fria e vazia. Liga a tv para o barulho do locutor do telejornal lhe fazer um pouco de companhia enquanto desacelera do ritmo do dia. Banho tomado, hora de se atualizar com as ultimas abobrinhas do facebook. Na caixa de entrada do e-mail só propagandas de produtos que não precisa e de viagens que ainda não podem ser feitas. Se ao menos tivesse com quem! Abajur acesso no canto da sala, aquele programa de bichinhos do NatGeo, uma taça de vinho e o tablet na mão são o resumo de um fim de dia que estava merecendo um pouco mais de afeto. Mas antes de desligar o tablet e virar aquela taça de vinho aparece no canto da página inicial um anúncio que lhe chama a atenção; tenha mais afeto no seu fim de dia - disque conchinha.

Não meus queridos, esta não é uma história de ficção. É pura realidade do começo ao fim. Ok, tem gente que prefere tomar banho antes, assistir o jogo do "Curitnhia" enquanto come, tomar uma "breja" ou vodka (ou chá) mas muitos fazem isso sozinhos e alguns estão querendo pagar o preço da independência e da companhia. Sim, tem gente pagando  pra dormir de conchinha E tem gente botando preço no serviço: 60 dólares a hora.

A ideia que nasceu de uma frustrante experiência pessoal (leia matéria aqui) segundo a empreendedora tem até fila de espera. Um insight de empreendedorismo num mundo de pessoas conectadas mas nitidamente isoladas (entendeu?).


Não sou contra essa iniciativa. Existe uma demanda, existe quem pode supri-la e existe um acordo - fecha a conta e passa a régua. Mas deixar de refletir sobre as questões que envolvem os hábitos da sociedade moderna para mim é impossível (sou meio chato mesmo. rs)

Nossa maturidade como indivíduo ainda não alcançou o nível de desenvolvimento contemporâneo de nosso estilo de vida. Independência é felicidade mas tem um preço. Podemos estar conectados com um mundo de possibilidades e desconectados de nós mesmos. Do que sentimos e precisamos sentir. E o abraço e bom tempo "perdido" com afetuosidades fica relegado pra quando der tempo. Só que quando lembramos aí não dá mais tempo. E isso pode acontecer com os solteiros ou mesmo com quem tem um relacionamento, daqueles de filme em que um as vezes pede ao outro "me dá um abraço?" Caramba, tem que pedir!

Por mais que nos deparemos com essas "modernidades" e dediquemos uns minutos para pensar, ou ler o texto do amigo sobre o assunto, a verdade é que logo mais vamos dormir com um boa noite do Bonner e seguir nossas vidas. Cobrar pra dormir de conchinha será tendência mais que um ponto de reflexão. Quem não achou super fofo a campanha de uns anos atrás que dava abraços grátis,o "free hugs"? E olha que era grátis. 

Muita coisa que é boa é de graça mas a gente só dá valor mesmo quando tem um preço. As idéias se propagam e já há iniciativas em que se alugam amigos e guias turísticos locais informais. Até motoristas como o caso do Uber. Mas também não vamos achar que o mundo está perdido onde se comercializa aquilo que nos torna humanos. O que se negocia sempre é o tempo de alguém para uma atividade específica. A estranheza está, ainda, em se cobrar pelo tempo para sermos humanos. Mas logo isso se tornará normal. 

Pensando nisso está aí uma boa oportunidade. Sou solteiro, bom nível cultural, simpático (sou simpático né gente?), limpinho ... "taí". R$50,00 a hora e ainda faço o chá de sua preferência e sirvo no quarto. Precisando, Disque EuAchoQueÉ Conchinha.