quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A muito tempo atrás numa galáxia muito, muito distante ...


Era um mês qualquer do ido ano de 1983. Alguns ainda lembravam da derrota pra Itália sofrida pelo Brasil na Copa de 82 e eu passava férias com minha família na cidade de São Paulo. A beira de completar, ou recém completado meu décimo aniversário, lembro que saí com meu pai para passear e acabamos indo ao cinema. Provavelmente um desses cinemas de rua que hoje nem existem mais. Mas lembro que era perto da República. Lembro que sempre quando ia com meu pai ao cinema era para ver algum filme dos Trapalhões (Os Saltimbancos é meu favorito, com trilha de Chico Buarque e Lucinha Lins no elenco)  Mas naquele dia não. Sabendo de meu gosto por ficção, naquele dia ele me levou pra assistir um filminho bem "mais ou menos"(é deboche rs): Star Wars O Retorno de Jedi.

Cerca de duas horas sem piscar. Catapultado para um mundo (um universo) de criaturas fantásticas e naves de batalha extraordinárias num luta intergaláctica entre o bem e o mal. E aquele sapão bandido chefe daquela gangue (Jabha,o Huth); o Han Solo congelado em carbonite; a música quando aparecia o cara de preto falando do respiradouro, Mas o cara com o sabre de luz dando aqueles saltos ... tinha acabado de ganhar um novo herói. Tinha acabado de ser contaminado por George Lukas.

Com o tempo descobri que haviam outros 2 filmes. O Império contra-Ataca acho que vi na TV Manchete algum tempo depois. Na pré-era do video-cassete os filmes demoravam muito pra passar no Super-Cine na Globo. Tele Quente só viria a ser lançado em 1988. É pessoal,não dava pra fazer download que nem hoje em dia. 

A métrica de Star Wars segue a velha fórmula do capa e espada com uma pitada meio que Edipiana: Luke,i m your father.  Uma fórmula que deu tão certo que passados mais de 30 anos que aquele menino entrou no cinema, e seis filmes depois, vem aí o sétimo filme da franquia prestes a bater muitos records. O Despertar da Força que estréia amanhã, 17/12/15 com estréia mundial só de pré-venda nos EUA faturou U$50 milhôes. No Brasil estimasse que cerca de 4 milhões de espectadores vejam o filme até final do mês.

A história que fascina multidões a mais de 30 anos criou uma cultura pop toda sua. Produtos são licenciados aos milhares e os fãs são conquistados geração a geração. Somos todos aventureiros vindos de planetas como Coruscant, Tatooyne, Alderan (que virou cinturão de asteróides), Kashyyk, Hoth... Somos Jedis mestres no manejo de sabres de luz que ano após ano engrossam uma legião de fãs de todas as idades em encontros específicos de aficcionados. E não tem jeito; se você mostrar um filme a um jovem que ainda não conhece a saga há uma enorme chance dele querer ver todos os filmes pelo menos. Batata. E Stas Wars é tão inusitado que o bandido é o personagem mais adorado. O verdadeiro anti-herói Darth Vader. Consagrado e cultuado. E imortalizado.

"Pra ninguém fácil está"
Na tentativa de criar um universo o mais verossímel possível a saga cinematográfica se espalha por outras mídias e ferramentas. A história é completada por séries, quadrinhos, livros e até games. 
Aquele garoto de mais de 30 anos atrás está preparado para fazer mais uma viagem na Falcon Mileniun. E quantas outras forem possíveis. Deixemos nossa realidade e adentremos em outra. "Atrasado chegar, você não pode". Liberte-se de si mesmo expandindo mais seu mundo. Não tema. E que a Força esteja com você.





terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Pra que que eu fui inventar de fazer essa coisa de transplante?

Geralmente é no silêncio da noite que a consciência consegue ser melhor ouvida. Quando surge numa madrugada especial mesmo que ela não grite a gente fica quieto e pede pra escutar. Neste início de madrugada do dia em que os anos se apresentam a mim cobrando mais um dígito penso nas folhas tão viradas do calendário. Folhas até que se desprenderam. Algumas perdi.

Meus anos recentes foram de profundas transformações e mudanças que pouco podem ser mensuradas. E acho que as relato aqui como forma de acreditar que tudo ocorreu por algum motivo e talvez o que vivi inspire alguém. Ou mesmo para não me permitir esquecer fatos transformadores.

Quando a realidade de um transplante duplo se materializou em minha vida como única alternativa para manter uma qualidade de vida que me permitisse viver de forma mais "normal" logo procurei encarar de frente e não me abater mesmo com a doença progredindo e a perspectiva do transplante demorar. Lembro de precisar muita energia para efetuar pequenos esforços e necessitar períodos de repouso. A insuficiência renal também diminui a fabricação de sangue pelo organismo afetando a distribuição de oxigênio para os músculos. Aliado a diabetes, não carregar as sacolas de mercado a pedido de minha mãe por vezes podiam parecer atos de malcriação. 

Mas seguia firme e trabalhando. Inclusive quando a realidade de fazer hemodiálise se abateu. E foi um momento pesado em que me abati. Enquanto aguardava no hospital minha vez de colocar um cateter no pescoço (a fístula no braço ainda não estava boa para a punção da hemodiálise) a desesperança me tomou. Com a dor de uma derrota na alma, num silencioso pranto de lágrimas fartas, me desentendi de vez com Deus. Passaria a viver ligado a uma máquina sabe-se lá até quando. "Por que pediste de mim mais uma dura prova, Deus?" Minha liberdade e independência estavam comprometidas. Uma coisa que gostava de fazer e não poderia era viajar. Por isso transplantei.

Com a devida paciência inerente a um sagitariano otimista, logo o transplante chegou e mesmo com os difíceis dias após a cirurgia já me sentia de esperança renovada. Logo eu ia poder voltar a viajar. Não sou nenhum Marco Polo mas em tratamento de hemodiálise pode esquecer viagens. Até finais de semana com feriado prolongado com churrasco ou cerveja na praia ou mesmo algumas horas de pé numa fila pra um mega show internacional. Mas a partir do transplante muita coisa voltaria a ser possível. E foi. Está sendo.

Nos poucos mais de 2 anos de meu transplante as coisas acabaram não sendo tão fáceis o que me rendeu internações e até uma amputação do dedão do pé em que a recuperação.já se arrasta a meses. Mas consegui voltar a fazer o que queria que era poder viajar. Fui a São Paulo ver meus padrinhos que amo; conheci a arena do Palmeiras no amistoso da seleção (nunca tinha visto jogo do Brasil); fui na Liga Mundial de Volley (meu padrinho adora essa história), revi e conheci amigos; também fui a Porto Alegre, Gramado e ao Rio de Janeiro. Sem contar Santa Catarina (confissão, fui a praia de nudismo exibir a cicatriz no pânceps ... rs). Enfim. Viver o verbo. Não como substantivo. Porque vida até uma samambaia tem. Mas sem dúvida a grande viagem tem sido a interior.

É impossível não passar por essas coisas e não processar mudanças significativas. Hoje me deixo dominar por uma serenidade maior e uma forma de pensamento muito singular sobre as coisas da vida, coisas que me atingem. Escolho melhor minhas batalhas e tento passar um pouco dessa minha visão, com minha experiência para que de repente ajude alguém. Escrevo pra acreditar que nada foi em vão e assim tentar fazer as pazes com Deus. 

Claro que essa reflexão as vezes é frustrante. Não dá pra querer que os outros aprendam com o que você passou. Mas eu acho um desperdício. Empresto minhas dores para outros aprenderem. Se possível. Mas as vezes cada um tem que cortar sua própria carne. Fazer o quê?

Tem gente que escolheu as aparências sem saber que o preço da maquiagem chega.

Há os que perdem amores pois vivem os amores dos poetas e não dos construtores. Amor penso ser construção. Quem constrói admira, cuida e reforma se precisar pra tudo não ruir

Ajudar a quem pede. Não a quem precisa. Quem pede ajuda é porque adquiriu sua dose de humildade e percepção.

Fazer as pazes com a solidão. Ela é ótima pra fazer você conversar consigo mesmo. E não briga pelo controle da tv.

Ouço tanta gente reclamando que odeia mentiras. Mas tem sérios problemas em ouvir verdades.

Entre outras pequenas verdades particulares que para mim tem funcionado. Se o amanhã é incerto o que dizer do depois de amanhã?

Parece que se Deus escreve certo por linhas tortas não signifique apenas que Ele tenha Parkinson. se é pra chegar lá em cima com a paz firmada saibam que ainda há focos de incêndio para apagar. Jamais apagamos todos os incêndios de nossas vidas. Dá pra tentar conviver com uns chamuscados. É muito melhor. Enfim, parece que o transplante foi uma ótima ideia. Uma viagem incrível.


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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Disque conchinha


 Você chega em casa depois de um dia exaustivo de trabalho. Come algo rápido porque a fome não espera o banho. Lá fora, a noite vai cainho um pouco fria e vazia. Liga a tv para o barulho do locutor do telejornal lhe fazer um pouco de companhia enquanto desacelera do ritmo do dia. Banho tomado, hora de se atualizar com as ultimas abobrinhas do facebook. Na caixa de entrada do e-mail só propagandas de produtos que não precisa e de viagens que ainda não podem ser feitas. Se ao menos tivesse com quem! Abajur acesso no canto da sala, aquele programa de bichinhos do NatGeo, uma taça de vinho e o tablet na mão são o resumo de um fim de dia que estava merecendo um pouco mais de afeto. Mas antes de desligar o tablet e virar aquela taça de vinho aparece no canto da página inicial um anúncio que lhe chama a atenção; tenha mais afeto no seu fim de dia - disque conchinha.

Não meus queridos, esta não é uma história de ficção. É pura realidade do começo ao fim. Ok, tem gente que prefere tomar banho antes, assistir o jogo do "Curitnhia" enquanto come, tomar uma "breja" ou vodka (ou chá) mas muitos fazem isso sozinhos e alguns estão querendo pagar o preço da independência e da companhia. Sim, tem gente pagando  pra dormir de conchinha E tem gente botando preço no serviço: 60 dólares a hora.

A ideia que nasceu de uma frustrante experiência pessoal (leia matéria aqui) segundo a empreendedora tem até fila de espera. Um insight de empreendedorismo num mundo de pessoas conectadas mas nitidamente isoladas (entendeu?).


Não sou contra essa iniciativa. Existe uma demanda, existe quem pode supri-la e existe um acordo - fecha a conta e passa a régua. Mas deixar de refletir sobre as questões que envolvem os hábitos da sociedade moderna para mim é impossível (sou meio chato mesmo. rs)

Nossa maturidade como indivíduo ainda não alcançou o nível de desenvolvimento contemporâneo de nosso estilo de vida. Independência é felicidade mas tem um preço. Podemos estar conectados com um mundo de possibilidades e desconectados de nós mesmos. Do que sentimos e precisamos sentir. E o abraço e bom tempo "perdido" com afetuosidades fica relegado pra quando der tempo. Só que quando lembramos aí não dá mais tempo. E isso pode acontecer com os solteiros ou mesmo com quem tem um relacionamento, daqueles de filme em que um as vezes pede ao outro "me dá um abraço?" Caramba, tem que pedir!

Por mais que nos deparemos com essas "modernidades" e dediquemos uns minutos para pensar, ou ler o texto do amigo sobre o assunto, a verdade é que logo mais vamos dormir com um boa noite do Bonner e seguir nossas vidas. Cobrar pra dormir de conchinha será tendência mais que um ponto de reflexão. Quem não achou super fofo a campanha de uns anos atrás que dava abraços grátis,o "free hugs"? E olha que era grátis. 

Muita coisa que é boa é de graça mas a gente só dá valor mesmo quando tem um preço. As idéias se propagam e já há iniciativas em que se alugam amigos e guias turísticos locais informais. Até motoristas como o caso do Uber. Mas também não vamos achar que o mundo está perdido onde se comercializa aquilo que nos torna humanos. O que se negocia sempre é o tempo de alguém para uma atividade específica. A estranheza está, ainda, em se cobrar pelo tempo para sermos humanos. Mas logo isso se tornará normal. 

Pensando nisso está aí uma boa oportunidade. Sou solteiro, bom nível cultural, simpático (sou simpático né gente?), limpinho ... "taí". R$50,00 a hora e ainda faço o chá de sua preferência e sirvo no quarto. Precisando, Disque EuAchoQueÉ Conchinha.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Aquele amor era Black Friday

Amar. Ai que bom sentir isso. Quem não gosta? Quem não quer? Amores reencontrados, renovados. Depois da recessão amorosa nada melhor que um novo amor. E vamos amar. Depois de um tempo em encubação o amor reaparece. Era uma sombra na esquina; um gato preto atravessando a rua. Um passarinho na janela. 
Mas o amor que se passou deu trabalho pra curar. Amar dá trabalho. Tem seu custo, sempre. Mas então você vai lá pensando em amar de novo, mas de novo do mesmo jeito, não. Sem tanto trabalho. Aí você abre a janela pro passarinho. Entrou. Fez ninho. Você nem viu.
E vai deixando. O canto do passarinho era bacana. Só comia alpiste e no final do dia era só trocar o jornal do fundo da gaiola.
Amor que canta em gaiola logo logo não encanta mais.
O canto sem graça incomoda mas não tanto quanto o alpíste e o jornal. Poxa, mas é só isso e tá reclamando? 
Amor tem que alimentar todo dia e as vezes limpar a sujeira como se nada tivesse acontecido. 
E as vezes quer que cante mas não coma nem faça sujeira! Aham ... senta ali Claudia (,,,).
Amor black friday que paga barato e tem os mesmos benefícios, não existe. Melhora essa ração, dá um jeito nesse jornal e se possível arrumar uma gaiola maior. E pode até deixar a portinha aberta. Alpiste bom e jornal limpo, passarinho amor até voa, mas volta.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Transplante já deu certo e a vida há de dar também.


Entre tantos meses coloridos, setembro foi verde, o mês da doação de órgãos,e no último dia 27 foi o dia nacional da doação de órgãos instituído pelo ministério da saúde (eu nem sei quem é o ministro atual mas deve ser do PMDB).

Sendo eu um transplantado minha médica, Dra Fabíola Pedron a qual agradeço e admiro muito, sabendo de meu blog me convidou a escrever algo sobre a doação de órgãos e os benefícios que isso trás a quem espera na fila de transplantes e a nova vida que tem após ser agraciado pela doação. Agradeci o convite e disse que escreveria algo e logo publicaria sobre a experiência que tive. Bem,o mês passou e acabei escrevendo algo só agora pois percebi que especificamente no meu caso relatar sobre a doação de órgãos, como a maioria de amigos sabe é preciso uma reflexão bastante profunda e escolher as palavras certas que só não exaltem o ato da doação mas também não causem aflição a quem aguarda por uma doação. Para mim o transplante deu certo mas a vida ainda não.

O processo que me levou ao transplante levou em torno de dois anos. Na verdade começou mais cedo, em 2009 quando precisei tirar o rim direito por um processo de hidronefrose. Depois disso o rim esquerdo começou a apresentar fadiga. Em 2012 sintomas se agravaram. A creatinina já estava em 7,0 e apresentava constante incomodo estomacal com asia e ânsias constantes, múltiplas alergias e dermatites. Em janeiro de 2013 entrei na fila para tx duplo de rim e pâncreas (devido a diabetes juvenil). Havia aí a esperança ainda de conseguir doador antes de inciar a difícil vida de fazer hemodiálise. Um amigo chegou a fazer teste de compatibilidade o que deu 100% compatível mas como a vida é a vida ele acabou não dando prosseguimento  Isso não me abalou e continuo tempo por ele o mesmo carinho e apreço que sempre tive. Doar um rim não é como pagar um McDonalds pra um amigo que está duro naquele dia.

Sem previsão de sair o transplante já tinha feito 3 cirurgias no braço pra fazer a fístula preparando-me pra eventual hemodiálise mas nenhuma tinha dado certo. A creatinina foi a 8,4 e o hemodiálise chegou. No começo fiz com cateter no pescoço, Fiz uma 4a cirurgia no braço e a fístula então funcionou. Acordava 3x por semana as 5 e meia da manhã, cruzava a cidade, me filtrava por 4 horas e depois ia trabalhar  Tinha dias que não dava, mas mesmo quando dava chegava umas 4 da tarde eu estava em petição de miséria. Não tinha mais energia. Em outubro de 2013 fui contemplado como tx duplo vindo de um rapaz que havia falecido de acidente na cidade de Pato Branco, interior do estado. Já contei aqui como foi esse processo então vou passar adiante (consulte ao lado textos a partir de outubro de 2013).

Enquanto eu fazia hemodiálise pensava muito em coisas que eu não ia mais poder fazer. A vida é sempre agora; O futuro é um desejo, uma esperança. Então eu achava que quem doa um órgão não doa só um coração, um rim etc.Doa perspectivas, horizontes e emoções. Quem doa um rim, doa uma comemoração regada a champagne, um capuccino ao cair da tarde; quem doa um coração doa uma corrida até o filho, doa uma noite de amor inesquecível com muito suor; quem doa o pâncreas doa um strogonoff de nozes, uma torta banoff, a sobremesa da ceia de Natal, o brigadeiro do aniversário de criança; quem doa córneas doa um por do sol, doa alpes suíços, castelos da Alemanha, doa a Beija-Flor na avenida; quem doa o pulmão doa um mergulho, doa um beijo demorado de tirar o folego; quem doa um órgão mais que vida doa viver.



Eu não seria eu se não viesse aqui dar um recadinho especial a quem aguarda na fila por um transplante ou mesmo para aqueles já são transplantados mas ainda estão na luta pra alcançar a vida normal. A rapadura é doce mas é dura.

O transplante em si não é uma solução imediata para todas as agruras para quem tem um órgão "made in china". A recuperação as vezes é demorada. Eu mesmo estou prestes a completar 2 anos de transplante e ainda não estou todo recuperado. Tive muitas intercorrências devido a baixa imunidade entre elas problemas neurológicos que afetaram coordenação motora que tem melhorado com tratamento específico. Eu chego lá. São coisas que, não necessariamente, podem fazer parte da recuperação (relatos de transplantados aqui). Mas são situações que deviam ser mais detalhadas ao paciente.

Mas para mim ainda é bastante forte a ideia que apesar dos riscos o transplante é a solução mais viável. Não se deixa de fazer o bolo porque talvez um ovo possa estar estragado; não se deixa de ir ao show do Queen porque talvez chova; não se deixa de tomar champagne, ter uma noite de amor, comer brigadeiro, ver o por do sol ou mergulhar por conta de algo que está além do certo e irrestrito. Viver é o certo. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Hermafroditando o pé.

Pois é, vejam como são as coisas. Tanto lugar mais útil pra usar foi me aparecer logo na ponta do pé uma ingrata "bucetinha". Sim, tô hermafroditando no pé.  Isso já decorre a mais de 3 meses depois que o médico achou que após 2 semanas da amputação do dedão já podia me descosturar. Eu bem que falei: não tira, não mexe, está tão bonitinho, costuradinho.... Mas não,  tirou os pontos e dois dias depois ela já apareceu, a dita bucetinha na ponta do pé. Pacabá.
De la pra cá é curativo todo dia, banho sentado com saco plástico pra não molhar e ter cuidado pra não calçar qualquer sapato. Ah ... Também tô fazendo a tal da camara hiperbárica. Digo que é um submarino de oxigênio puro que ajuda em cicatrizações complicadas. Td mundo diz que é bom, mas como minha paciência acabou depois da 3a internação hospitalar dos últimos meses - foram 4 - eu acho que após 18 sessões eu já não teria nem caspa. Mais de vinte mil léguas submarinas e a bucetinha ainda lá. Td bem que está melhorando. Falei que não sou deste mundo?
Pelo menos pra limpar e trocar o curativo eu não sinto nada devido a perda de sensibilidade na região. Minha bucetinha é frigida. E como se não bastasse tem corrimento, a danada. Devido ao processo de cicatrização solta secreção. E qual foi a solução pra não manchar todas as meias? Modes. Sim, tô usando Carefre Slim. Quase me sentindo "sempre livre". Vai ver é por isso que estou tão "seguro, livre e independente" o suficiente pra continuar sendo quase normal e dando meus passeios porque viver é preciso. Quem vê chekin não vê o trabalho que o pé tem. Com esse panorama posso dizer que minha bucetinha tá rodada. Segue o fluxo, digo, a vida.


terça-feira, 28 de abril de 2015

Aperta, fura, corta ... só vai doer um pouquinho!

Recuperando a inspiração de escrever sobre a tragicomédia da vida (como a dor nos inspira né?), volto aqui para lançar-me numa nova empreitada profissional: consultor hospitalar.

"É bonita, é bonita e é bonitaaaaaaa ... "

Mas veja, nos últimos tempos estive devidamente instalado para manutenções em 3 hospitais então já começo a dar consultoria sobre instalações, corpo clínico e de enfermagem e até gastronômico dos hospitais de Curitiba e região. 

Claro que hospital não é hotel, mas na minha última internação conheci uma pessoa que ia ficar 3 meses internada pra tratamento. Pensa em ver tv num aparelho de 14 polegadas pendurada na parede. Não vem luneta junto. Tinha tv a cabo mas filme legendado nem pensar. 

Somente um dos 3 hospitais tinha wi-fi. Gente, wi-fi em hospital é igual balão de oxigênio. Tem q estar disponível na cabeceira do leito. Ou então põe uma 42 polegadas na parede  Mas ainda assim sua comunicação com o mundo fica prejudicada. Não tem como. 

Corpo médico e enfermagem estão de parabéns. Gente, tô até com saudades. Mas nem tanto. Meninas são fofas. Só que eram mal de veias. Ou minhas veias eram más. Nunca conseguiam pegar veia pra acesso de primeira. Diziam que tinha veia bailarina. Eu pensava, "ai que tudo, tenho uma veia do Bolshoi". Vou pedir indenização por furarem ela.

Corpo médico de parabéns, Agora,o corpo DOS médicos, loucura, loucura, loucura. kkkkkk. Eu achava que só a cardiologia produzia doutores saídos de um seriado americano (hello fãs de dr Sheppard de Greys Anatomy) mas a ortopedia é capaz de te levar ao céu porque MEU DEUS. Você acorda cedo depois de uma noite de prazeres a la morfina com um belo par de olhos te fitando, segurando na sua perna e dizendo se vc passou bem a noite ... viajei. 

"É  bonita, é bonita e é bonitaaaaaaa ... "

E na crise das dores pré amputação do dedo vc tb é obrigado a ouvir cada coisa que é o preço que se paga por não ser surdo. Tudo bem, não vamos entrar no mérito desse assunto porque vocês sabem que um raio PODE cair várias vezes no mesmo lugar. Mas você ouvir que "ainda bem que está com dor no pé porque isso significa que você ainda tem pé" me fazia imediatamente pensar em dizer "que tal você ter uma hemorroida? Seria bom pra vc lembrar que tem cu". Paciência eu tenho mas não abusa.

Agora, um item que é reprovação geral é a comida de hospital. Se tráfico de comida fosse crime capital na Indonésia, eu tava morto. Se bem que 3 dias com aquelas comidas é o mesmo risco. Comida de hospital é aquela pro doente continuar doente. Guardadas as devidas restrições de cada um dá pra melhorar a coisa. Irmão de uma amiga, está em Londres e fez uma cirurgia no joelho no que seria o SUS inglês. Aí ele mandou a foto do almoço pra irmã, que é minha amiga, e ela me mostrou. Gente, quero ir pro SUS inglês. Prato bonito e vistoso. E ele disse que era gostoso. E o meu aqui que era convênio era muito sem graça. Aí só apelando pra parentada "mocar" o lanchinha na sacola ou mochila e se acabar com o Habbis, o rondeli do Speddini, pizza, a coxinha com catupiry sucesso da cidade. O tráfico corria solto. Kit de sobrevivência no hospital.

Silêncio e hospital tb são coisas que não combinam. Tipo chamar o Darth Vader pra fazer macarrão ao sugo no programa do Claude Troisgros. QUE MARRAVILHA!!! Num orna. Hospitais em região central da cidade são mais complicados devido ao transito nos arredores. Alie a isso os carrinhos de roupa suja e outros itens que não tem as rodinhas de borracha e a limpeza semanal que é feita a meia noite com uma enceradeira especial, espacial, e infernal. Oh troço barulhento.

Por outro lado hospitais centrais permitem mais possibilidades de delivery. "Por favor, meia margarita e meia calabrezza no 502".

Pé esquerdo enfaixado e não pode molhar. Braço direito com acesso pra medicamentos e não pode molhar. Hora de tomar banho ..................................................................................................................
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.......................... esse espeço em branco é o tempo para vc pensar em como fazer isso .........................
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Pensou? Pois é. Plástico preso com elástico no pé. Banquinho pra tomar o banho sentado. Abra o chuveiro e deixe sua dignidade ir ralo abaixo. Dignidade? Deixa pra horas boas e pros filmes de alto ajuda. Dignidade é cheirinho bom, é estar limpinho. Peça ajuda de alguém que você se sinta a vontade e tome um banho a ótimas 3 mãos (uma vc não deverá estar usando, do contrário a perda do acesso fica por sua conta e risco). Com a mão livre você lava quase tudo, mas o suvaco oposto á mão do acesso e costas fica complicado.

Comido, lavado, trocado e drogado (direto na veia 4 vezes ao dia fora os comprimidos), pegue seu livrinho de colorir para adultos estressados e deixe o tempo passar. Pois 5 horas lá fora são apenas 1 no hospital. Também dá pra socializar com os doentes dos outros quartos. Só não recomendo contar piadas de doença.

Bem,com esses pontos acima já posso aprofundar o assunto e escrever um livro como manual de hospitais. Ou melhor. Como tem reality de tudo hoje em dia na tv (se vestir, se maquiar, costurar, ficar magro, andar pelado no mato, cozinhar - alguns eu penso que o cara vai matar o chef adversário e quem sobreviver ganha), vou fazer um de hospitais. Tem a prova da injeção, do acesso no braço, do banho, da troca de curativo, das dorgas, e de derrubar a enfermeira e amarra-la em menos tempo. Se cuida BBB.

Mande cartas com dúvidas e sugestões que nós respondemos. E até a próxima. Mas antes eu queria te mostrar um produto maravilhoso, um produto único e maravilhoso. ROLHAX. Praquele momento que vc acha que não dá pra segurar, introduza o ROLHAX. Ele evita vazamentos e vem com esse alarme de segurança pra quando a coisa ficar insuportável e ele te avisa a tempo de chegar ao WC.
ROLHAX, seu bem estar e das roupas de baixo em primeiro lugar. ROLHAX. 

E pra semana que vem responda. Você já paquerou algum médico(a) enquanto estava internado (a)? Tchau, tchau.

sábado, 25 de abril de 2015

Eu gostava do meu dedo.

Coisa básica é uma declaração de amputação. A ortopedia cirúrgica acha que é "bom dia". Bom dia, vamos tirar um dedo - pé, perna, braço - hoje? Explico, devido a um calo na sola do pé esquerdo próximo ao dedão, que inflamou e infeccionou gerando uma necrose no dedão, foi preciso a princípio, fazer uma retirada desse tecido para cicatrização e findar uma dor horrível que me atormentava a mais de um mês. Mas a coisa é muito assim, pá-bum. O dedo é meu. Ou era, visto que após ressonância verificou-se que a inflamação atingiu o osso do dedo. Qual o nome daquele queijo japonês a base de soja mesmo? Pois é.

E na eminência do falecimento do meu dedo eles pedem para você assinar um termo de autorização de amputação. Na hora de tirarem o tecido necrosado podem verificar que a inflamação no osso é mais séria e de repente pode ser que o dedo vá pro brejo. Mas você ali naquela do tipo ... "vão cortar meu dedo fora?" Pacabá.

"Eu autorizo a Santa Casa de TENHA Misericórdia a amputar o ..." espaço pra colocar a parte que pode ser amputada. Eu preenchi para que na hora h não houvessem duvidas do que tinha que ser tirado fora.

E mais. Eles pedem autorização para darem um fim na parte amputada. "Fica a critério da Santa Casa de TENHA Misericórdia a dar destino ao referido membro, sim ou não?" Claro que não. O dedo é meu. Eu quero meu dedo de volta pra poder empalar e fazer chaveiro pra colocar no meu carro, oras bolas. Eu e meu dedo fizemos tantos caminhos juntos. Tantas vezes no escuro ele achou a porta antes de minhas mãos acharem a maçaneta. As unhas encravadas pelas quais gritamos juntos. É um apego emocional. Vocês não sabem a importância de um dedo debaixo quando ele está para passar para o outro plano. Caminhadas, topadas, chutes, chupadas (fetiche cada um tem o seu né verdade?) Tanto que estão todos convidados para a missa de sétimo dia do meu dedo querido pois vou distribuir santinhos com a foto dele com a inscrição "esse foi um grande cara que andou por esse mundo de meu Deus". Meu Deus. Não teve jeito. Ele se foi ... pausa para segurar as lágrimas.

Como diz o ditado "vai-se um dedo e ficam 19", Botei na OLX e desapeguei ... desapega, desapega. Vai com Deus, vai pro céu. Vai chutar as portas lá em cima pra quando eu chegar daqui a muitos anos, eu encontrar tudo aberto. E vê se acha a canela de alguém lá em cima pra acordar e trabalhar direito. E eu que queria ser igual o Cauã Raymond e fazer comercial das Havaianas. Não vou nem usar.

Claro que só consegui olhar para baixo na troca do terceiro curativo no hospital. Aquela coisa tipo, não tava afim de não ver o meu dedo. Mas um dia eu ia ter de tomar banho e olhar (eu tomo sempre banho ... vocês entenderam). Aí olhei. Gente, me senti que nem a Gisele Bundchen e aquelas outras tops na revista que aparecem sem umbigo, faltando orelha, canela e tal. Erraram o photoshop do meu dedo, apagaram ele. Dá um ctrl + Z. Devolve.

Enfim gente, agora é tentar virar presidente e descolar desconto na podóloga. A bagaça é "lenha".