segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Capítulo VI - Respostas Esquecidas


Se recuperaram um pouco daquele momento doloroso em parte graças a serenidade e empatia do ancião Iramaelis. Sua doçura na voz mas com a firmeza que lhes dava confiança, beberam um pouco de água e logo se postaram a caminhar seguindo o ancião por um trecho da mata. Na outra margem, Arhun havia pedido aos que não tinham conseguido passar que armassem acampamento e os aguardasse.

Caminharam até o sol lhes esconder as sombras sob os pés. Chegaram numa clareira verdejante onde de perto se ouvia a água a correr. Uma tenda coberta de folhas e uns retalhos de peles de animais que faziam a função de porta dominava a paisagem na parte sul da clareira. No ar, o aroma da maresia trazida por uma brisa constante. O mar estava muito próximo.

Iramaeles pediu ao assistente de cozinheiro que sobreviveu que descansasse. Ele mesmo providenciaria algo que os deixaria mais fortes e animados. Após alguns minutos os que estavam fora sentiram aromas que lhes abriram o apetite. Não souberem identificar mas o cheiro das ervas que Iramaelis usava dominava o lugar. Depois de um tempo chamou os viajantes a adentrar a tenda.

Ficaram maravilhados. A tenda era grande por dentro. Não parecia tanto assim por fora. Uma mesa simples mas bem arrumada no centro com lugares para todos enchia a visão naquele primeiro momento. Velas aromáticas iluminavam a cena auxiliado por algumas aberturas no teto. Nas paredes peles, amuletos, objetos decorativos de vários estilos, tecidos simples, estampados e até brocados. Móveis não haviam muitos, alguns baús apenas. Ervas e outras plantas, inclusive flores de vários tipos preenchiam espaços em todos os cantos. Era um lugar especial.

-- Adoro tudo que cresce na terra. Disse Iramaeles, completando. -- Alimentem-se e fiquem á vontade. Devem estar famintos e estômagos vazios absorvem pouco do que chega á mente pelos ouvidos.

Fartaram-se com peixes de vários tipos e sabores. As ervas que serviam de tempero vaziam com que apenas uma porção não fosse suficiente para os viajantes. Acompanhados de legumes frescos crus e outros cozidos, agradeciam por cada novo sabor que degustavam. Uma bebida levemente adocicada servia de refresco.

Viver pelo mundo caminhando a tanto tempo trazia suas vantagens, dizia o ancião.

Frutas foram servidas como sobremesa. Então Arhun se adiantou e perguntou ao ancião sobre seu destino, Khager. Notando a impaciência no rosto da princesa, Iramaeles começou. Mas não pelo motivo principal da viagem e sim pelo broche que a princesa carregava.

Presente de Arhun á filha, estava na família real a mitas gerações. Chegou a Arhun  por sua mãe, avó da princesa. que havia ganho do pai e assim de geração em geração passando de mulher a homem e deste a uma mulher. Mas ninguém sabia a origem dele.

-- A muitas gerações, num tempo que para vocês hoje acreditam ser lendas, os dragões do tempo habitavam as montanhas acima de Kawtiby. Depois de anos de guerra um dos senhores da casa real fez paz com os dragões e estes protegeram a cidade até seus últimos dias. Cunharam um amuleto selando essa amizade que devia ser respeitada para sempre. Seu broche é esse amuleto.

Ficaram surpresos, mas Iramaeles continuou.

-- Numa época de sombras um inimigo poderoso aportou á Kawtiby e os dragões ajudaram o rei a defender a cidade. Os invasores foram expulsos mas a linhagem de dragões havia acabado. Apenas um ainda vivia mas ferido mortalmente. O rei foi logo ter com ele em seus últimos momentos com palavras de gratidão eterna e que aquela nobre linhagem de dragões jamais seria esquecida e para sempre reverenciada. Pena que parece que isso não se confirmou até os dias de Arhun.

O rei fez expressão de desconforto.

-- Vendo a ferida do amigo dragão, o rei que estava com o amuleto, pegou uma faca e fez um pequeno corte em sua mão que começou também a sangrar. Pegou o amuleto com a mão sangrando e o encostou na ferida do dragão. Ambos os sangues se misturaram e banharam a gema do amuleto que absorveu o líquido. A magia do sangue do dragão se misturou à alma dos descendentes da casa real de Kawtiby. Por isso as temeridades de seu coração, princesa, serão percebidas pelas mudanças de clima de sua cidade. Afinal, seu sangue está unido á linhagem dos dragões do tempo.


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