sexta-feira, 25 de março de 2016

Não tem nada de errado em querer ir embora!


Pessoas desancoradas, livres do mundo, com um pé no chão e o outro no ar, vamos?

Nunca vi tanta gente falar em querer ir embora como atualmente. Claro que a motivação tem sido quase que unanimemente a atual crise política e econômica do Brasil que elevou a podridão a níveis estratosféricos. A falta de ética, a sede de poder e o mau-caratismo foram redefinidos por nossa classe política. O sentimento de desesperança nunca foi tão grande. Não vou entrar no mérito partidário, é só pra exemplificar.

Também há aqueles que procuram motivos emocionais para partir. desilusões amorosas ou paixões longínquas. Eu prefiro crer que nestes casos o problema é como você encara os problemas do seu coração. Talvez deixar um problema de amor para trás é só ir de encontro a um outro em outro lugar. O problema será o mesmo, só vai mudar o endereço. Não coloque ninguém pra morar no seu coração antes de uma reforma (leia isto).

Mas existe uma necessidade de partir que as vezes brota em nossa essência que não tem nada a ver com algo tão palatável quanto uma crise econômica ou um chute na bunda do coração. Tem a ver com um simples fato de que "este aqui não é o meu lugar".

Pertencimento é uma das necessidades sociais do ser humano e a vivência em grupo dita certos hábitos de comportamento que você segue pra se sentir aceito. Na adolescência fazemos algumas bobeiras para sermos aceitos. Quando crescemos nos identificamos com grupos distintos por gostos musicais, atividades esportivas, opiniões políticas, profissionais e etc. A união à família é uma necessidade de pertencimento emocional e sanguíneo de existência praticamente. Não dá pra viver sem essas pestes que tem o mesmo sobrenome que você (lembrou da tia fofoqueira que não larga do seu pé nas festas de Páscoa né? Se vira que domingo ela tá aí.).

"Deixe_me ir preciso andar,
Vou por aí a procurar,
Rir pra não chorar ..."
                                 Candeia

Mas existem aqueles que não estão nem aí pra isso tudo. Se dão bem com os ex, com os atuais. Levam os respectivos pras festas de família e nem ligam pro irmão pentelho e o cunhado que torce pro time rival. Aqui ou ali simplesmente acham que não pertencem a nada daquilo.

Geralmente é uma pessoas que transita por todos os meios sem maiores problemas. Conhecem bastante gente e até falam de futebol e dão pitacos em física quântica. Mas é aquilo. No fundo pensam "o que é que estou fazendo aqui?".

Faltam-lhes a necessidade de pertencimento a um determinado meio. Acho que na verdade a identificação com o meio acaba sendo tênue. Hábitos, práticas e situações as vezes lje parecem estranhas mesmo fazendo parte do contexto. Não que achem que o que está em volta é errado mas só não se veem fazendo as mesmas coisas. Nasceram no lugar errado e chegam em determinado momento da vida que percebem a necessidade de se encontrarem. De restabelecer contato com a necessidade de pertencimento real. 

São comuns os casos de pessoas que conhecemos e que de repente sabemos que estão longe. De repente alçaram vôo e se encontraram do outro lado do mundo. Tenho uma amiga que aconteceu isso e de nossas conversas uma coisa que sempre lembro que ela mencionou é que ela não se via como pessoa inserida no contexto a qual vivia aqui. Uma alma que nasceu no lado errado do oceano e se achou em outro lugar. Mantém seus laços familiares mas criou sua âncora de pertencimento em outros ares.

Sinto que as grandes transformações que me ocorreram nos últimos anos acentuaram certos sentimentos e necessidades que tentava suprir de várias formas. Uma separação complicada, uma desilusão fora de hora e um transplante duplo de órgãos com desdobramentos longos e sofríveis mexeram mais comigo do que eu mesmo queria perceber ou reconhecer. Quando parei de buscar um pertencimento mecânico quase adolescente notei o distanciamento que se abriu entre mim e tantas coisas. 

O pertencimento também se caracteriza pela sensação de você ser necessário no contexto. De perceber que você tem algo a acrescentar. Você olha á sua volta que algo de bom você está deixando com as pessoas e que você também recebe e aprende algo bom de quem está ao seu lado. E isso é muito importante também. Alimenta a existência. Quando essa troca diminui o pertencimento se enfraquece e surge a necessidade de se redimensionar ou buscar novos horizontes para reaquecer tudo o que escrevi aí em cima.

Diz-se que se você é brasileiro e você não desiste nunca, mas por outro lado, quando a Volkwagen parou de fabricar o Fusca ela usou no seu marketing a frase que evolução significa deixar de fazer certas coisas. Se existe a sensação que, tentar pertencer ao que se acha que já não se pertence a tempos, é de reinvenção ou mudança. 

"E se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar..."
                                          Candeia

De repente seu reencontro está longe. Eu acho que vou visitar minha amiga.


3 comentários:

  1. Vai....e abre caminhos! Se a porta fechou pode-se abrir uma janela. Teimar em ficar onde não deu certo é encontro certeiro com o amargor. E taí uma coisa que você não é!
    bjs

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Os políticos é que são reflexos dos brasileiros, a galera aqui está insuportável, mau caráter, egoísta, acham que podem ofender os demais e se alguém reclama te chamam de mimizento. Brasil está um inferno. Quem dera ir embora.
    Sagitariana também, será que é mal do signo ? 😀

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