quinta-feira, 2 de junho de 2016

A história que insistimos em não aprender. Portugal de ontem, o Brasil de hoje e o nada de amanhã.

O que acontece no Brasil hoje, com aumento de impostos, deterioração de serviços públicos, aumento da violência, enriquecimento ilícito de classes dominantes e aumento de despesas para beneficiar a classe política (a nobreza), aconteceu em vários países, levando à revoluções sociais, a cerca de 200 ou 300 anos atrás.
... 300 anos.
E a história se repete.
Mas tudo bem, adoramos usar a desculpa de que somos uma nação jovem e que os outros estão 1000 (?) anos a frente. Numa nação em que educação sempre esteve em terceiro plano é quase impossível querer que se tenha um mínimo de noção análoga para entendermos o que diz a história sobre a nossa realidade e os desdobramentos que podem nos trazer no presente. Ou talvez tentar medidas que evitem o drama passado por essas nações. Bobagem, a gente adora um drama, se fazer de vítima ou como dizem alguns apegados ao divino para justificar suas vidas, "fazer o que se Deus quer assim ..."
Oh God !!!!
Vou contar uma historinha dos nossos patrícios de além mar, nossos descobridores portugueses. A economia de Portugal no século XVIII era centralizada nas mãos de uma aristocracia conservadora ligada a igreja que era também dona de terras. Sua economia era baseada na exploração das colonias e isso lhes rendia muito poder e riqueza. Esse ciclo de exploração das colonias havia começado no século XVI com a cana de açúcar e se renovou com a exploração do ouro e do mercado de escravos. Toda a aristocracia feliz e o resto que se dane.
Portugal, apesar da riqueza de sua exploração, era uma nação subdesenvolvida. Quem mandava enriquecia sem esforço, sem precisar investir no desenvolvimento de uma indústria de manufatura interna, diversificação da produção agrícola ou mesmo desenvolver a indústria naval (grande parte da frota mercante era inglesa). Já a vida da população em geral era péssima e faltavam até alimentos. Os grãos necessários vinham das colonias inglesas da América do Norte e os produtos manufaturados diretamente da crescente indústria inglesa. Portugal cada vez mais rico e cada vez mais endividado. Mas a aristocracia ia muito bem,obrigado! Navios carregados do ouro das Minas Gerais iam direto para os cofres ingleses.
Mas se a coisa está feia para alguns o negócio é se virar. Funcionários portugueses que trabalhavam junto as autarquias de comércio inglesas começaram a dar um "jeitinho" de desviar mercadorias para negociar no mercado negro. Produtos franceses entravam no país mediante um "pró-labore" generoso. Haviam piratas portugueses que saqueavam navios vindos da África e do Brasil. Até no Brasil haviam desvios dos carregamentos de ouro que iam a Portugal.
Alguém lembrou de algum país da atualidade com essas características?
Com os ventos do iluminismo longe de Lisboa e o conhecimento de princípios econômicos modernos nas mãos de jovens aristocratas só Deus pra salvar a nação portuguesa de um futuro incerto (igual muita gente pensa aqui). E em 1 de novembro de 1755, Ele fez Portugal tremer. Um grande terremoto que causou grande incêndio e foi seguido por um maremoto arrasou Lisboa. Foi a primeira vez que a família real pensou em fugir para o Brasil. Tanto que o então responsável pela reconstrução de Portugal, um tal marquês de Pombal, transferiu a capital da colonia de Salvador para o Rio de Janeiro
Pelo fato do desastre ter ocorrido no dia de Todos os Santos a igreja arrefeceu de suas posições tão conservadoras (sim, eles tinham certeza que foi castigo divino) e `Pombal conseguiu com mão de ferro modernizar um pouco a economia portuguesa. Claro que sem esquecer de se beneficiar de uns dividendos ilícitos (ele não tinha conta na Suíça mas deu certificado de produtor de vinho do Porto a suas fazendas que nem no vale do Douro ficavam, por exemplo). Enfim, foi o nosso conhecido "arrouba mas faz".
Com a morte do rei João V, sua esposa dna Maria I (a louca) passou a governar e colocou Portugal de novo no antigo regime econômico pressionada e adulada pela antiga aristocracia e pelos interesses ingleses. Alia-se a isso as guerras peninsulares em que Espanha e depois França atacaram Portugal que mal tinha um exército profissional formado (Pombal iniciou mas não pode concluir o processo de formação do exército português). A defesa do país ficou a cargo dos aliados ingleses a peso de mais ouro.
Agora, pra quem não entendeu leia de novo a história acima trocando os seguintes termos: monarquia e reis por governo federal; aristocracia por câmara dos deputados, banqueiros e empreiteiras; e plebe e camponeses por povo brasileiro em geral. Pode até trocar dna Maria I (a louca) por Dilma. Quaisquer semelhanças não são meras coincidências.
Quando dizem em acaloradas discussões políticas para alguém estudar história eu fico perdido me perguntando de qual capítulo que o fulano se refere na certeza que está falando do capítulo errado. Somos repetidores da história e não estudantes a ponto de tentar aprender para evitar e melhorar. Parece que algumas coisas estão no dna ora pois.
Soube que a câmara dos deputados aprovou ontem um aumento para o funcionalismo que impacta 50 bilhões de Reais nos cofres públicos (sim, estou falando de Brasil século XXI e sim cofres públicos = nosso bolso). Enquanto isso saúde e educação ... blá blá blá coisa de plebeu. "Que comam brioches".
E eu não consigo enxergar nenhum "arrouba mas faz mas faz direito" para ter uma esperança renovada de que essa história mude.
O jeito é torcer pelo terremoto.

Um comentário:

  1. O pior, O PIOR mesmo, é que pelo menos Portugal teve seus dias de glória como nação mais poderosa da Europa....
    Aqui nem isso.....
    Ainda somos colônia de exploração. Só que somos explorados pelos próprios "donos"!
    bjs

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