terça-feira, 20 de maio de 2014

Quando o normal ainda é anormal


Olá pessoas. Estou aqui mais uma vez com vocês inspirado numa frase de Caetano Veloso que diz que "de perto ninguém é normal". O problema é definir o que é e o que não é normal. E ainda mais complicado pode ser redescobrir o normal de si mesmo. Meu caso.

Quando vivemos nossas vidas de forma até certo ponto despreocupada fazendo tudo mais ou menos como o esperado e de repente nos vemos enfrentando grandes desafios como uma doença inesperada, crônica como um câncer, ou menos intensa como a diabetes, ou a perda de mobilidade de uma perna por um acidente precisamos reinventar nosso normal frente as novas limitações. Palavra de ordem de qualquer médico, com todos os cuidados a gente vai poder ter uma "vida normal". Não sei vocês, mas no meu caso que fui diabético por quase 38 anos, sempre tinha vontade de falar pro médico ser normal como eu tomando 4 injeções por dia ou amarrar o tênis com uma mãe só. Super normal.

Transplantado a sete meses de pâncreas e rim estou mais uma vez experimentando a sensação de encontrar novas normalidades no meu viver: a de não ser mais diabético.

No filme A Primeira Vista (At First Sight, de 1999 - Val Kilmer e Mira Sorvino) o personagem de Val Kilmer é cego desde os 3 anos de idade e convencido pela namorada faz um tratamento pra voltar a enxergar. Seu mundo normal desaba quando passa a enxergar o mundo com outros olhos, quase literalmente. 


 
Após quase 40 anos sendo diabético e a sete meses não sendo mais me vejo buscando um novo mundo de normalidade pra mim mesmo onde comer um chocolate que não seja diet ou beber algo que não seja zero não me tragam uma sensação de culpa. Quando acordo ainda penso em tomar a injeção de insulina - a primeira das 4 diárias que tomava - que na verdade não preciso mais. Sentir fome então, é uma coisa muito esquisita.

Fome antes era efeito da insulina que já havia metabolizado a glicose no sangue e por falta de mais glicose causava a sensação de fome que era fraqueza, sudorese, até perda de coordenação motora e distúrbio da visão. Agora não. É uma coisa esquisita que ainda não sei direito o que é. rsrsrsrsr. Gente, sentir fome dá dor de cabeça? 

Há outras situações que estou tentando não fazer com que virem normais como uma neuropatia que por vezes tem me exigido usar uma bengala para poder andar  Normal tem sido encontrar uma solução definitiva para ela. 

Na vida estamos sujeitos o tempo todo a situações que mudam nossa percepção de normalidade. Para Val Kilmer ser cego era normal e ele não via problema nenhum nisso; sem trocadilho. Só dá mesmo pra buscar um equilíbrio entre o que se apresenta pra nós como uma nova realidade, uma nova normalidade visto que nem sempre podemos escolher. É encarar de frente e passar por tudo isso como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Um comentário:

  1. eu gosto muito desse filme também. se você se lembra, ele volta a ver, mas precisar 'aprender' a ver, pois só olhando ele não sabe o que é cada objeto, ele precisa pegar, precisa do tato. na rua, não tem noção de velocidade e quase é atropelado. acho que tudo é assim, começar algo novo exige aprendizado. e só o hábito vai fazer aquilo ficar cada vez mais 'normal' para você.

    ResponderExcluir