sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Dia da doação de órgãos! Eu também estou na fila!


Hoje vou falar um pouco sobre esse assunto importante e delicado: doação de órgãos. Bom, muito se fala sobre o assunto, da importância das pessoas terem consciência da doação, o quanto é seguro o processo de retirada de órgãos de um doador; da captação e transporte dos órgãos até o centro cirúrgico até o transplante em si e da significativa melhora da qualidade de vida do transplantado. Além de córneas, coração e rins, também se transplantam fígado, pulmão, pâncreas, ossos, pele o outras partes, até intestino, com uma estimativa de sucesso bastante grandes trazendo à quase normalidade a vida de milhares de pessoas. Mas decidi fazer um pequeno relato sobre isso tudo sobre a ótica de quem aguarda a tão esperada ligação para o despertar de uma nova realidade: a minha ótica, a ótica de quem precisa de um transplante.

Sou portador de diabetes tipo I, o que precisa tomar injeções diárias de insulina desde 1 ano e meio de idade quando fui diagnosticado após uma série de convulsões. Nessa época ainda morava em São Paulo e a diabetes ainda era um bicho de sete cabeças. Hoje é só de seis. rsrs. Em 1993 identifiquei uma alteração no rim direito. Inicialmente esse problema se deu por origem congênita que foi se agravando. Ele perdeu função e acumulou excesso de líquido o que culminou numa cirurgia pra sua retirada em 2009. Com o histórico de diabetes e sobrecarga na função, o rim esquerdo começou a falhar. No começo comecei a controlar alimentação mas logo passei a usar medicação mais significativa. São cerca de 20 comprimidos diários. Além da insulina.

Parte desses comprimidos mascaram alguns sintomas da diabetes como a hipoglicemia (baixa excessiva de açúcar no sangue) o que começou a me acarretar crises mais severas desse sintoma. Sudorese excessiva, perda de coordenação motora, desmaios passaram a ser frequentes. Inclusive no trabalho onde certa vez acordei com enfermeiros me dando glicose na veia. Isso também ocorreu de madrugada, durante o sono, que quando acordei estava totalmente descoordenado, não conseguindo controlar os membros nem a fala. Fui acudido por minha mãe que me deu mamadeira de água com açúcar (não conseguia segurar um copo ou mal engolir de forma normal).

No começo do ano passado a anemia começou. Quem manda o organismo fabricar sangue são os rins que no meu caso já estavam com data de validade vencida. O esquerdo né, pois o direito não tinha mais. Com a perda da função renal e a anemia sentia-me fraco e com dificuldade de respirar em algumas vezes. A acidez no sangue começou a subir demais e logo começaram problemas estomacais e alérgicos. O organismo tenta de todo jeito botar as toxinas pra fora e as coceiras passaram a me atormentar. Sem contar as ânsias e enjoos decorrentes da acidez no estômago. Não foram uma nem duas vezes apenas que vomitei de estômago vazio.

Com o histórico de falência renal a vista, corri para os exames pré-transplante. Que bateria. Só de sangue foram 50 tipos. Fiz em 3 etapas pois senão ia ficar sem sangue numa retirada só. De imagem foram outros 15 eu acho. E daí vai meu aviso aos homens: fujam de um exame chamado uretrocistografia. Vocês não tem noção do que fazem com o seu "amigunho". E nunca acreditem num enfermeiro que manda você tirar as calças e diz que só vai doer um pouquinho.

Bom, terminado os exames agora era ser incluso na fila de transplante esperando por um rim e pâncreas, fato que ocorreu em janeiro deste ano. Porém, como o rim tava indo pro brejo era possível de eu precisar de hemodialise antes do transplante sair. Pra fazer hemodialise é preciso fazer uma fistula. É uma inversão da artéria com a veia, geralmente no braço, para a veia ficar maior e poder ser punssionada para a hemodialise. Pois bem, ledo engano.

Fiz a primeira cirurgia da fístula no pulso do braço esquerdo. Dez dias de molho e ... a veia não pegou. Fiz a segunda um pouco mais acima e ... nada da veinha querer ajudar. Fiz no braço direito a terceira. Depois de 10 dias meu braço começou a ficar azul. Deu derrame. Fiquei mais de 20 dias afastado, aí, já pelo INSS. E a dita cuja nada de ajudar.

Meu quadro piorou e em março deste ano meu médico disse que tinha que entrar na hemodiálise. Meu mundo caiu. Aí ele disse que como eu não tinha ainda a fistula precisava fazer um cateter no pescoço pra fazer a hemo dessa forma até fazer a fistula. Meu mundo acabou. Tudo que queria evitar era a hemo mas não deu. Passei dois dias me lamentando, chorando em desespero por não acreditar que tudo isso estava acontecendo logo comigo. Um cara legal que procurava ser bom com as pessoas e tentava não ofender ninguém. Nessa hora, Deus ouviu poucas e boas.

Pois bem, coloquei o cateter no Hospital Evangélico. Aquele da médica acusada de antecipar o THE END de pacientes na UTI aqui de Curitiba. Até brinquei com meu médico: nossa doutor, desistiu de mim? Meu humor negro ganhou status de "stand up comedy" nos últimos tempos.

Eu falei pra vocês que continuo trabalhando normalmente? Ou quase? Ok. seguindo.

Comecei a hemo muito feliz e contente (certo, isso foi deboche), mas logo o médico marcou outra cirurgia da fístula, a quarta. Dessa vez troquei de médico e fiz com uma médica indicado pela Fundação Pro-renal. Enfim minha fístula funcionou (melhor de 4), pude tirar o cateter do pescoço ( vocês precisam de um cateter no pescoço pra ver como é legal tomar banho e lavar a cabeça sem molhar o tubinho) e agora levo duas agulhadas no braço 3x por semana. Bom né? Ah, é! A hemodialise são 3x por semana durante 4 horas. Acordo as 5 da manhã, atravesso a cidade, assisto Bom Dia Paraná, Bom Dia Brasil, depois dou bom dia pra Ana Maria, Bem Estar e dá tempo de pegar a Fátima Bernardes dizer "Olá". As vezes passo mal, a pressão cai mas tá tudo susse. É a vida. Não posso beber álcool, tenho q cuidar com alimentos que tenham excesso de potássio e fósforo e ainda cuidar da diabetes. Moleza. E ainda escuto meu chefe perguntar o que esta acontecendo comigo que meu rendimento caiu. Troféu "joinha" pra ele, né gente?

Então meus amigos, pra resumir essa tem sido minha vida nos ultimos meses. Já fui chamado umas 8 vezes pro transplante mas acabou indo pra outras pessoas á minha frente ou pra ninguém, quando descobrem que o órgão do doador esta estragado. Se isso o sensibilizou e deseja saber um pouco mais sobre doação de órgãos para ajudar alguém a melhorar, literalmente de vida, segue abaixo o link do Conselho Nacional de Justiça que trata do assunto. Além é claro da vasta literatura virtual na internet.

Obrigado pela paciência de ter lido. E divulgue se achar producente.

3 comentários:

  1. Olá Renato,

    Ler a história de uma vida que até agora é marcada pelo otimismo não é ter paciência .....é ter um privilégio!!!
    Diante de tantas pessoas que desistem tão facilmente eu tenho o prazer de ler um homem que ama a vida. Que luta por ela assim como deve ter lutado por tudo que esse homem ama. Vejo um homem que precisa de um transplante de órgão, mas definitivamente NÃO precisa de um transplante de alma como tantos que circulam por ai.....
    Você ama a vida e por isso tem o meu respeito incondicional!
    bjs

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    1. Oi Zé (já tô íntimo). obrigado pelas palavras de incentivo. Realmente tem sido muita pedrada num Judas só, mas escolhi não ficar reclamando e fazer a parte que me toca: enfrentar tudo isso e quem sabe servir de bom exemplo pra outras pessoas que não enxergam as belezas da vida à sua frente. E quem sabe meu novo amor apareça de branco? hehehehe. Grande beijo e apareça.

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